Falas português de Portugal ou Brasileiro?
Desde meus 17 anos ficava encantada com as histórias de pessoas que faziam mochilão e sonhava que um dia viveria em outros Países. Cheguei a fazer intercâmbio na Inglaterra mas eu queria mesmo era ir sem data para voltar, só que lá na minha juventude Outro País significava Outro Mundo, e para minha família conservadora desbravar outros mundos era coisa de astronauta.
Como dizem que taurinos não desistem facilmente, eu cumpri esse script. Guardei a sementinha do desejo de viver no exterior esperando uma oportunidade. Bom, a sementinha demorou um cadinho para germinar, mas 50 anos depois brotou com força total, e me carregou por dois países durante o ano e meio do início da pandemia do COVID. Primeiro para Faro no sul de Portugal, depois para a região da Lombardia na Itália e por último para Viana do Castelo no norte de Portugal. Foi tudo meio de roldão mas me deu alguns causos pra contar.
O primeiro deles é que eu desembarquei no Algarve achando que estava em casa, afinal era como que um direito de infância porque minha vó Teda, mãe de mamãe, era portuguesa e adorava cantar e tocar fados para mim. Além disso, guardo até hoje a lembrança deliciosa de sentar na varanda de casa para escutar as histórias engraçadas que ela contava do meu bisavô, português genuíno.
Então uma certeza tranquila fazia parte de mim: português de Portugal é como minha língua natal. Hum! Só que não!
Anotem aí: Português de Portugal e Português do Brasil não são a mesma língua, e ponto final.
O primeiro impacto aconteceu logo que eu e Galvani, meu marido, saímos do aeroporto, pegamos um táxi e não conseguimos entender uma única palavra do que o motorista falava. O pobre coitado teve que repetir três vezes, e cada vez mais devagar, para que a “portuguesa” aqui sacasse que ele só queria saber aonde queríamos ir.
Para nosso alívio os donos do AirBnb enviaram as chaves do apartamento por um mensageiro que falava mais devagar, e a comunicação foi satisfatória. Deixamos as malas e saímos para comer de verdade porque eu não dou conta de comida de avião e estava sem nada no estômago há umas 15 horas.
Entramos numa Pastelaria famosa que tinha uma vitrine cheinha de doces e salgados. Senti-me em casa de novo porque alguns dos doces eu já tinha ajudado minha vó Teda a fazer para as festas de aniversário.
Meus olhos pararam em um pedaço de torta salgada, e perguntei de que era o recheio…
Aí danou-se tudo!
Não havia meios de eu entender de que era feito o recheio daquela torta. E não sei dizer o que era pior: se a fome que espremia minha cabeça ou o constrangimento de ver o esforço da senhora a tentar me explicar.
Resultado, pedi sem saber o que era só para sair logo daquela situação, e quando me dei conta de que era uma deliciosa torta de legumes, fiquei inconformada. Como eu pude não entender a palavra que a senhora usara… qual era mesmo? Não me lembrava mais e nem tive coragem de pedir a ela para repetir. Desisti.
Mais ou menos uma semana depois entrei na mesma Pastelaria e escutei uma pessoa pedindo a mesma torta de legumes, e o que foi pior, usando a mesma palavra embolada que eu não tinha entendido. Isso mexeu com meu orgulho ferido. Saí da fila e fiquei repetindo trocentas vezes até conseguir decifrar aquela bendita palavra… e dessa vez a decepção foi de matar!
A palavra era: V E G E T A I S
Como diz uma amiga de minha filha: Português de Portugal é o próximo distante.
Claro que agora entendo o português de Portugal melhor do que há 1 ano atrás, mas de vez em quando ainda faço cara de “tendi tudo”, para evitar que a pessoa se sinta obrigada a repetir várias vezes a mesma palavra.
Se você quiser saber mais sobre morar em Portugal ou se quiser me contar um causo, eu vou adorar! Beijoca
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